Retrato por Blancher.
LECONTE DE LISLE
( França )
Charles Marie René Leconte de Lisle (Saint-Paul, Reunião, 22 de Outubro de 1818 — Voisins, Yvelines, 17 de Julho de 1894), mais conhecido por Leconte de Lisle, foi um poeta e intelectual francês. Expoente principal da corrente parnasiana, dedicou-se também à tradução da poesia dos autores da Antiguidade Clássica.
Ver biografia completa em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Leconte_de_Lisle
CLÁSSICOS JACKSON – VOLUME XXXIX POESIA 2º. Volume. Seleção de ARY MESQUITA. São Paulo, SP: W. M. Jacson Inc., 1952. 293 p. encadernado. 14 x 21,5 cm Ex. bib. Antonio Miranda
A PANTERA NEGRA
(Tradução de RAIMUNDO CORREIA)
Um luar rosicler surge, as nuvens tingindo
De que a leste o horizonte inteiro se enche e atulha;
E a noite, o atro de pérolas partindo,
Sobre o mar se debulha.
Rasgam-se de ouro e luz as cambiantes fitas
Dos céus, que o matinal nevoeiro mal empana,
Sangue e fogo espadana...
Dos bambus, dos letchis de frutos purpurinos
E de onde o calambuco incesta e a caneleira,
O rócio espirra ao sol em feixes cristalinos
E em cintilante poeira...
Fresco barulho sai das árvores, das flores,
Das pedras... Rolam no ar fulvas onda cheirosas,
Plenas de ecos joviais e enérgicos odores
De essências voluptuosas...
Por ermas trilhas, onde o ervado à luz do dia
Fuma espesso, e em torrente argentina, ressoa
A água viva, que sob esplêndida arcaria
Do junco indiano ecoa...
A rainha de Java aos antros subterrâneos
Regressa, onde deixara os filhos esfomeados
Entre ossos nus de carne, esqueletos e crânios
De animais devorados;
Marcha ondulando, e o olhar como um virote agudo
Crava inquieta na sombra, onde ressona o vento;
Mancha-lhe um sangue vivo e inda fresco o veludo
De seu pêlo opulento;
De um veado que, há pouco, em postas fez na caça
Roja um quarto a sangrar, na crua fauce o prende
E um rastro longo, atrás de si, por onde passa,
Quente e purpúreo estende.
Voltam-lhe em redor borboletas e abelhas
E esfloram-lhe à porfia o dorso; e nos atalhos,
Que pisa, a selva entorna as grávidas corbelhas
De aromas e de orvalhos;
Curiosa e ao mesmo tempo assustada, a serpente
Para vê-la passar ao longe pela mata,
Dentre uma sarça, astuta e precatadamente,
Ergue a cabeça chata.
No entanto, a fera vai,, galhos, troncos quebrando
E após, no seu covil entra e desaparece;
Tudo é silêncio, o ar queima, e,inteiro, em luz nadando
O sertão adormece.
O SONO DE LEILAH
(Tradução de RAIMUNDO CORREIA
Calmo estio; a água viva não murmura,
Nem ave alguma as asas bate, arisca;
Apenas, leve, o bengali belisca
De rúbea manga a polpa áurea e madura;
No parque real, à sombra verde-escura
Das latadas, a lânguida mourisca
Leilah repousa à sesta... O sol faísca
Num céu de chumbo ardente, que fulgura...
Oprime o rosto o braço contrafeito;
O âmbar do pé sem meia, docemente,
Colora as malhas do pantufo estreito;
Dorme e sonha, e, sorrindo, o amante chama,
O lábio a abrir — fruto aromado e quente,
Que o coração refresca e a boca inflama.
EROTISMO & SENSUALIDADE EM VERSOS – antologia de poesias eróticas da antiguidade até aos nossos dias. Seleção: Renata Cordeiro. Ilustrações: Auguste Rodin. São Paulo: Landy Editora, 2005. 126 p. 15x24 cm. ISBN 85-7629-041-3
Ex. da biblioteca de Antonio Miranda
AS ROSAS DE ISPAÃ
As rosas de Ispaã na bainha musgosa,
Os jardins de Mossul, a flor da laranjeira,
Ah, fragrância não têm suave e tão ditosa,
Ó branca Leila, como a tua aura ligeira!
[...]
Mas desde que fugiu, com sua asa ligeira,
O beijo dessa boca encarnada e ditosa,
Perfume já não há na tênue laranjeira,
E nem celeste odor nas bainhas musgosas...
Que o teu jovem amor, borboleta ligeira,
Volte ao meu coração, com sua asa ditosa,
E que perfume ainda a flora da laranjeira,
As rosas de Ispaã na bainha musgosa.
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Página publicada em fevereiro de 2024.
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Página publicada em maio de 2023
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